quinta-feira, 10 de setembro de 2009
The Hottest State
Hoje vou falar de um filme que me marcou e que vi há não muito tempo.
Este The Hottest State é realizado por um dos actores que mais admiro em Hollywood e que infelizmente não teve ainda o reconhecimento nem a sorte que merecia ter no que diz respeito a ter trabalhos que o permitam almejar a prémios etc.
Devo dizer que grande parte da admiração cresceu com a sua fantástica participação no Before Sunrise / Before Sunset do seu mentor Richard Linklater.
Este The Hottest State é uma adaptação de um romance (há quem diga meio autobiográfico) com o mesmo nome, escrito por Ethan Hawke. Parte da ideia do livro e das suas personagens, capta a essência da mensagem, mas reconstrói-a para uma história um tudo o nada diferente, mas em que as reflexões e as sensações que desperta são semelhantes… Apenas opta por melhorar alguns aspectos e transforma-los para que a mensagem chegasse não de uma forma tão crua ao público e salientar os momentos, as reflexões e diálogos que Hawke mais valorizava do livro, cortando algumas partes desnecessárias e tratando outras com outro envolvimento.
Este filme é o 2º trabalho como realizador de Etan Hawke. Vê-se claramente a influência do seu mentor Linklater, que o marcou com esse grande trabalho que foi o Before Sunrise e que aguçou esse bichinho de ir mais além, quando escreveu o argumento para a continuação da história de Jesse e Celine e o seu reencontro no Antes do anoitecer…Aí o argumento foi partilhado entre ele, Linklater e também a brilhante actriz Julie Delpy, agora também a aventurar-se na realização com o seu 2 days in Paris.
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Não deixa de ser curioso que ambos tenham trabalhado com Linklater e demonstrem ambos agora aptência para trabalhar por detrás das câmaras cada um com as suas ideias próprias e estilos, tal como já se reparava na construção das personagens Jesse e Celine e no se trabalho a desenvolve-las…
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Mas vamos ao filme.
Trata-se da história de um jovem aspirante a actor, William, proveniente do Texas e que conhece uma jovem aspirante a cantora, Sarah, em NY aonde ambos tentam prosseguir esses seus sonhos. Sarah tinha decidido ser independente e não deixar que nada nem ninguém lhe impedisse ou a fizesse sentir-se novamente presa…. Ambos eram jovens algo que encurralados por momentos do passado, por traumas antigos , no caso de William decorrente de ser filho de pais separados e não ver o seu pai desde os 8 anos.
William apaixona-se perdidamente por ela, é talvez a 1ª vez na sua vida em que sente de facto algo tão forte por alguém, por aquela rapariga algo misteriosa e que não lhe parece dar certezas nenhumas de o amar de volta…Ou pelo menos não o demonstra tal como ele.
Passam no entanto duas semanas no México juntos aonde a paixão, o sexo, o amor e o conhecimento e partilha mútua ficam impregnadas nas paredes do quarto do hotel que mal abandonam… William tem que ficar mais 3 semanas para gravar um filme, Sarah volta à sua vida normal, em NY sem ele…
Quando William volta, parece que tudo mudou… A sua Sarah apaixonante que até queria casar com ele no México, tinha-se tornado noutra pessoa…O amor que antes parecia cada vez mais uma certeza tinha-se desvanecido de forma tão bruta e intensa como lhe apareceu na vida…
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Isso remete-lhe a pensar na sua vida, em si próprio e durante grande parte do filme sentimos o seu desespero, a sua luta para entender o porquê…O porquê de algo que se quer tanto, ter que acabar e não estar no seu poder mudar e voltar atrás…
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Ethan Hawke realiza muito bem este filme para quem ainda está no começo desta carreira.
Durante o filme consegue fazer-nos animar com aquela paixão por aquela rapariga doce e misteriosa e ao mesmo tempo leva-nos a locais obscuros de dor contínua... quase como sentimos o arrastar vagaroso daquela série de sentimentos de perplexidade, de inconstância, de não saber o quê nem o porquê, a dor física mesmo da perda de alguém com quem sonhávamos ter tudo e agora dela apenas nos resta o vazio dos seus olhos, como se a mesma pessoa que ele conhecera fosse apenas uma recordação de algo que na verdade nunca foi real…
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Este filme tem como falhas alguma descontinuidade em alguns diálogos no que diz respeito ao argumento, pois é um filme de momentos, torna claro que Hawke valoriza muito a criação de momentos de reflexão perante diálogos, alguns deles brilhantes ,de grandes ideias base que ele quis espalhar perante as personagens do filme.
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Não é a história comum de um amor, de rapaz conhece rapariga, química e lá está um filme de final feliz… Não é sequer a história de um casal…É a história do jovem William e a forma como ele lida com o mundo que observa, como ele cresceu nele e a forma como ele lida com a dor da rejeição e isso o faz aproximar-se de questões do seu eu íntimo que ele antes nunca havia valorizado ou sempre havia tentado escapar delas. Perante uma situação nova, apercebe-se que tem uma série de assuntos do passado mal resolvidos e que isso o faz não conseguir lidar com o seu sentimento presente… Porque na verdade nunca resolveu essas carências e nunca as enfrentou…
Fantasmas como o abandono do pai e o facto de este ter criado uma nova família e nunca mais ter contactado com ele desde os 8 anos…Coisa que William nunca houvera enfrentado antes, ou visto como um problema, mas que no caos que a sua vida se torna, repara de que muito do que tem sido a sua vida é o reflexo da forma como ele apreendeu esse momento da sua vida… Como a grande admiração e memórias de infância do pai contrastam com a dor silenciosa de no seu intimo sempre ter achado que o pai um dia o quereria com ele…A forma como isso implicou a sua relação algo estranha com a mãe e a forma como encarava as mulheres ou simplesmente lidava com sentimentos mais complexos para ele…Como um momento da sua infância poderia ter afectado tanta coisa nas suas decisões e na forma de ele ser que ,a partir de certa altura ,já ele nem sabe bem porque caminhos percorrer a tentar encontrar respostas… Respostas ocultadas perante a pergunta fundamental que é o que deve ele fazer para ter a Sarah de volta, quando no fundo esse problema é apenas a ponta do iceberg… A Sarah foi o despoletar de uma série de dúvidas, receios e sentimentos que William sempre guardara com ele, mas nunca ninguém tinha conseguido fazer tocar tão fundo no seu íntimo….
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É um filme em que se vê William à procura desesperada de respostas… Um filme sobre crescimento, sobre auto conhecimento através da perda, da dor e da rejeição.
Mostra a ideia que o nosso primeiro verdadeiro amor, aquele que nos é capaz de transportar para locais nunca antes visitados pela nossa alma, capaz de nos fazer sentir que somos capazes de voar... a sua perda é capaz de nos fazer cair abaixo do chão…
Parte da ideia que o estarmos apaixonados e amarmos alguém e lidarmos com essa rejeição ou a perda dessa pessoa, o 1º grande desgosto amoroso, tal como todos os outros, mas o 1º em especial ,acaba por ser a melhor forma de nos conhecermos a nós próprios….Os nossos limites, o que somos capazes de fazer e sentir e nunca imaginamos ser capazes e até como algo tão forte como esses sentimentos nos pode destruir por dentro, mas como por entre essa viagem no final nos vemos com maior claridade que antes e nos conhecemos melhor.
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Neste filme destaco as interpretações secundárias brilhantes da fantástica Laura Linney e do próprio Ethan Hawke que faz de pai e tem uma das cenas mais marcantes de todo o filme, que é quando nesse processo de descoberta, William vai até ao Texas para confrontar o pai,desesperadamente à procura de respostas, para poder ter a Sarah de volta, quando no fundo, são respostas sobre ele próprio e a forma como ele lidou com o enorme amor que sentia em pequeno pelo pai e pela forma como lidou com o facto dele o ter deixado que ele procura sem saber...
Ao longo do filme, Hawke joga muito bem com o tempo e os flashbacks de William sobre momentos com o seu pai que o marcaram e dos quais nunca se esqueceu e de conselhos que nunca entendera muito bem como “ Nunca afastes o teu coração do Texas” … Desesperado William procura respostas, para ele ser da forma como é e não de outra e se é por isso que perdeu a Sarah… Procura respostas, culpas e culpados acaba por descobrir que a resposta não existe, mas que nesse processo ele saiu a conhecer-se... e conseguir conhecer-se e confrontar-se como nunca o havia feito, e isso no final fez com que se sentisse mais livre e a aprender a lidar com o passado, o presente que o magoava e com o futuro que estava ainda à sua frente…
Acabará porventura por até perceber que apesar de ouvir vezes sem conta os mesmos conselhos, nunca propriamente os entendeu até esse momento….Nunca apreendeu a sua verdadeira mensagem…
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Destaco também o brilhante momento do filme que é o extraordinário diálogo entre William e a sua mãe, pedindo-lhe conselhos sobre Sarah…
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Mas há várias frases e momentos marcantes num filme que é um trabalho sentido e autêntico de Ethan Hawke, ele expõe-se bastante neste trabalho e a sinceridade do mesmo compensa uma ou outra falha que possa ter, normais para quem ainda está a começar…
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Outro grande destaque deste filme é a excelente banda sonora( vejam o video de um post anterior com a música Never see you again)….Muito bem escolhida para ser a voz angelical de Sarah, intepretada por Catalina Sandino Moreno. Uma escolha de Hawke a que obrigou a algumas alterações da história original do livro…Faltou ser ela a fazer as cenas de canto, mas a sua voz a cargo de Rocha ficou muito bem entregue...E todo o filme ganha uma dimensão ainda mais profunda pela sua excelente e oportuna banda sonora, escolhida a dedo para o tipo de filme e o tipo de sentimentos que Hawke se propôs debruçar neste filme e para cada cena.
Alguns críticos esperavam mais desenvolvimento do lado emocional e a forma de pensar de Sarah mas não me parece que a intenção de Hawke fosse essa… Trata-se de uma quase autobiografia romanciada, trata-se da forma como o jovem William via Sarah e a sentia, e não aquilo que era na verdade… isso aplica-se a todas as demais personagens…É a forma como William as vê e como responde aos seus estímulos. É um filme sobre auto descoberta e como o estarmos apaixonados e termos um desgosto amoroso pode ser a forma mais sincera e profunda de estarmos connosco próprios e nos conhecermos de facto.
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Poderia escolher várias cenas que me marcaram no filme mas deixo aqui para mim a cena mais forte… A tal cena em que William confronta o pai. Brilhante diálogo e excelente representação de Hawke e do jovem Mark Webber que é aliás um actor que pode ter um excelente futuro.
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Aqui fica o trailer para aguçar o apetite de quem ainda não tenha visto o filme...:
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Deixo aqui algumas passagens quer do filme quer do livro que acho brilhantes...:
"It was Wednesday when we met, Saturday when I asked her to move in, and by Sunday there were flowers in my apartment and hummus in my refrigerator. I don't remember waking up that Sunday. I don't think I ever slept. I just sat there thinking, "God damn, this must be what praying is like."
"Your whole life, people are gonna ask you to be weak. They're gonna practically beg you. But all anyone really wants is for you to be strong.
"
"My heart is gold, What will you give me for it "
" Dont you find it odd that when you were a kid everyone in the all world tells you to follow your dreams, but when you get older they act offended if you even try..."
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