terça-feira, 4 de outubro de 2011

No dia em que...

Quando tudo está mal em nós
E o mundo parece cinzento
Quando a luz se evapora num sopro inconsciente e seco
Então,aí promete-me...
Que te verei no final.

Quando o calor se tornar insuportável e queimar a alma
e o som do silêncio deixar de ser calmo e doce
No dia em que me esquecer do amor de verão e a areia apenas queime e a maresia perca o sabor
diz-me que no fim ver-te-ei.

Quando o tempo deixar de fazer sentido
e o passado for já apenas uma tão dolorosa não existência que se desvanece como a memória de um 1º beijo encantado...
No dia em que quiser fugir, desaparecer,e ficar parado no meio de uma história interminável, diz-me,promete-me que lá chegado, estarei contigo.

Quando o meu corpo se tornar tão feio e impefeito quanto a minha alma.
Quando a dor e o remorso suplantarem o esplendor do raiar da aurora..
Quando deixar de me sentir aquecido pelo frio aconhegante daquela paisagem idílica de Outono..
No dia em que o meu coração deixar de chorar e simplesmente secar, diz-me que te verei no final.

No dia em que a memória ( eu eu próprio) me falhar e me esquecer de quem um dia me imaginei ser...
No dia em que eu próprio preferir que ela me falhe...
No dia em que já não existam nuvens falta de algodão que me façam querer viajar entre elas, e em que prefira fixar um ponto na parede e que já não haja um raio da luz lá fora que me convide a sair do meu casulo, nem um sol de inverno ao final da tarde  que me abrace e aqueça o coração...Nesse dia, em que me vejo apanhado e preso nesse interstício cósmico...simplesmente diz-me que estarás comigo.

Eu esperaria por ti...

No dia  em que o mais pequeno e inesperado dos gestos seja incapaz de me conseguir arrancar um sorriso...
Quando chegar o dia em que nºao existam mais locais na minha mente para onde possa migrar e refugiar-me, e perca essa capacidade de viajar nos seus meandros para locais mais agradáveis...Quando deixe de haver locais para me abrigar das tempestades e do frio que faz lá fora...
No dia em que parar de haver algo de inexplicavelmente mágico no antes de um qualquer amanhecer...diz-me que estarei contigo.



No dia em que a caixa de música parar de tocar...
No dia em que os aviões deixarem de voar, em que já não haja aquele ponto de encontro entre partidas e chegadas...
No dia em que o pano cair e deixar de ouvir ao longe as  pancadas de Moliére e me tornar incapaz de representar mais , ou simplesmente já não conseguir cativar o interesse seja de quem for...
No dia em que a réstia de pózinho mágico de encanto e ousadia ou loucura poética  que ainda possam restar dentro de mim desaparecerem, na última fila...promete-me, que te verei nessa altura.

No dia em que o caminho tenha feito de mim não um viajante sem rota, mas antes um nómada sem sonhos à busca de um mapa...
Nesse dia, no dia em que as minhas pernas e o meu corpo não conseguirem aguentar mais o pó da estrada,diz-me que te verei no final, qual miragem...Diz-me que chegado ao final da estrada, estarei contigo.


3 comentários:

Anónimo disse...

Arrepiante... e encantador... aqui está representado o amor verdadeiro.. de quem pede e de quem fica. Muito profundo. Muito para além do que os olhos vêem e coração sente... mais que isso tudo... e possível.

p.s. Se alguma editora vir este poema não te vai deixar escapar!

Jil disse...

Perfeito :')

ricardocosta disse...

Obrigado.:=)