Hoje vou falar de um filme que vi no cinema quando tinha apenas 11 anos.
Na altura foi ao cinema com a minha família, uma tarde comum na época. O meu pai,a minha mãe e o meu irmão íamos ver alguns filmes. Muitas vezes filmes de animação ou comédias.
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Desta vez iamos ver um filme português...Poderia parecer assustador,já na época...Mas era uma história que parecia ser familiar, tinha uma criança como personagem principal( um jovem José Francisco Pimentel que, já na altura, demonstrava que faria da representação o seu futuro).
Filme que entre outros,contava com um dos melhores actores portugueses: João Lagarto.
Lembro-me que na época o filme me marcou...Ainda não era um cinéfilo, nem tinha visto grandes filmes como hoje...Mas este filme era diferente...Tanto, que no final saí da sala sem perceber o seu final e o achar algo estranho...Os meus pais que eram mais velhos também haviam saído confundidos com o final...Volvidos alguns anos,com outra maturidade, recordei-me do filme, quando numa discussão falava daqueles que eram para mim os melhores filmes portugueses que tinha visto.
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Uma história bonita, comovente, enternecedora, fiel aquelas que só são habitáveis geralmente na mente das crianças...
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A história parte de uma premissa simples. " Era uma vez a história de um filho que gostava de ter um pai que gostasse de ter um filho"
O filme tem a sua acção narrada sempre em voz offf pela voz de Filipe,que conta a história de um miúdo que raramente via o seu pai. Chegava sempre demasiado tarde a casa para estar com o filho, e nunca passava tempo com ele, era praticamente um desconhecido...Finalmente chegado o Verão, o pai( João Lagarto) anuncia ao filho que terão umas férias juntos na bela ilha dos Açores.
Filipe meio que atordoado com a ideia,fica sem perceber muito bem o que o espera,pois nunca tinha estado tanto tempo com o pai, mas ao mesmo tempo sente-se entusiasmado pela aventura de ir conhecer os Açores com o pai.
O filme oferece-nos uma fotografia absolutamente genial de uma ilha encantada como os Açores, uma realização que ,para época , apresenta uma proposta bem interessante, com planos fixos para contemplar as relações, os afectos dentro da imensidão de uma paisagem maior...
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É a história do desabrochar de uma série de sonhos de uma criança, de aventuras que sempre quis viver, o 1º beijo, o 1º amor, um grande amigo, aventuras e desventuras mas, acima de tudo, a oportunidade de estar tempo com o pai que nunca teve...
No decorrer da viagem o seu pai( João Lagarto) demonstra que aquela viagem tem um propósito...Quer connhecer o filho, passar tempo com ele, aproveitar todo o tempo para criar momentos e conferir ao filho uma série de memórias com o pai que nunca havia tido até então.
Filipe fica entusiasmado por finalmente poder falar de tudo com pai,tudo o que ele sempre quis falar, tudo o que pensava e não tinha a figura paternal com quem partilhar...Basicamente, Filipe tem as melhores férias da sua vida.
Uma ideia interessante,todo o conceito do filme, como se vai se apercebendo pela forma como se desenvolve...Não tem grandes pretensões, tenta que a beleza dos Açores sobressaia enquanto um pai e um filho se conhecem...Apercebemo-nos depois que aquelas férias seriam as 1ªs e as últimas que teriam juntos...O pai de Filipe estava a morrer, sabendo disso, queria passar todo o tempo disponível com Filipe e queria que mais tarde Filipe ficasse com a memória de um pai alegre,brincalhão, amigo, capaz de lhe proporcionar umas férias que nunca esqueceria...Sente-se a cada momento, que tenta-se congelar ali o tempo, naquele espaço mágico...
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O filme é especial,porque toda a forma como é concebido o argumento e a própria forma como é apresentado visualmente parte da imaginação de uma criança e como ela vê a conversas que teria com o seu pai, as aventuras que viveria, como tudo seria diferente...
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O filme é mais bonito ainda, agora que olhando para trás penso que, passado todo este tempo, não deixei de sorrir quando há uns meses atrás encontrei o trailer do filme no youtube, e foi como se a história nunca tivesse saído da minha cabeça...Captada e conservada através dos olhos daquele miúdo de 11 anos que foi ver o filme com a sua família....Um miúdo de 11 anos a ver um filme sobre uma história que se baseava na fértil imaginação de uma criança mais ou menos da mesma idade...
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Na altura não compreendi,(tal como os meus pais) o final...O pai quer que a despedida seja feita sem tristezas,choros...Não depois de umas férias daquelas...Depois de terem tido tempo para falarem de tanto, partilharem tanto...Mesmo sabendo que tanto ficaria por contar...Na visão de uma criança era triste, que aquela relação tivesse que acabar logo ali...Quando Filipe termina dizendo que ficou com o cheiro do pai agarrado à sua roupa e que nunca o esquecerá...
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Um filme que estabelece o paralelismo entre aquilo que é a realidade crua e dua do nosso dia a dia, e daquilo que gostariamos que fosse,quando temos a capacidade de escapar para uma outra dimensão, do que vemos e sentimos todos os dias...Criar na nossa mente um outro tempo, sem precisar de apagar as personagens do nosso dia-a-dia, nem apagar o nosso Mundo e iniciar outro....apenas recriar,reiventar o que já temos...Um filme que viaja e se estabelece por entre esse paradigma entre sonho e imaginação e o facto de no final, por mais bom que seja o sonho,haversempre o despertar para a nossa realidade...
Esta é a história de uma criança que sempre sonhou ter um pai que a quisesse ter...Que a cada noite,quando se ia deitar, sempre esperava que, pelo menos por uma vez, o pai entrasse no seu quarto,nem que fosse apenas para lhe dar um beijo de boa noite...A história de como perante uma realidade triste ou que não nos agrada, a imaginação e o sonho podem dar as mãos e fazerem-nos ser tudo aquilo que quisermos ser e viver todas aquelas experiências que sempre desejamos...Mesmo que por vezes, o despertar para a realidade seja duro. Muitas são as histórias de pessoas, que perante a tristeza ou a desilusão tiveram a capacidade de explorar melhor o seu lado criativo,nem que fosse para terem a capacidade/habilidade de verem um mundo melhor. Uma realidade para além daquela que lhes é dada a conhecer no seu dia-a-dia.
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Hoje, com outra maturidade e sensibilidade, vejo que aquele final tinha todo o sentido...Na época parecia abrupto, cortava toda a narração que tinha seguido uma lógica até então...Mas agora compreende-se...Era o despertar do sonho para a realidade...Mesmo em termos de sequência visual e de linguagem,são contextos apresentados de forma diferente.
Afinal tratava-se de uma história que aquele miúdo nunca viveu, com um pai que ele sempre quis ter e nunca teve, e umas férias de sonho nos Açores que de tão idílicas, nunca foram reais...por mais real que as sensações e sentimentos tivessem sido vividos... para um miúdo que nas férias grandes nunca havia saído de Lisboa sequer...Acima de tudo, a história de uma criança que sonhava ter um pai que gostasse dela...
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Uma ideia interessante, um filme despretensioso,com uma bonita banda sonora dos Delfins, numa época em que eles ainda não tinham chegado à sua fase " Sharon Stone". Uma música que joga, pela sua letra e melodia ,muito bem com aquilo que serão os pensamentos de uma criança que sonha e anseia por ter um pai que a ame, que acima de tudo, queira ter um filho...
Marcou-me. Aconselho. Mesmo sendo de 1996 e tendo naturais falhas, acho que é um filme diferente do que estamos habituados no cinema português. Uma mensagem bonita.
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Ps- Alguém teve a gentileza de publicar a totalidade do filme no youtube.Aconselho a todos que dêm uma vista de olhos.
Fica aqui o videoclip do tema do filme da autoria dos Delfins: Não vou Ficar
1 comentário:
Vejo que gostou tanto do filme como eu. Obrigado por partilhar também um pouco da sua memória e interpretação. Uma excelente análise. :)
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