Erramos. Facto. Não podemos fugir do erro…Uns erram mais que outros, outros erram menos, mas os seus erros têm repercussões maiores…uns erram de forma reiterada, outros erram de forma episódica mas que dói tanto como se tivesse vindo a ser repetido…Uns arrependem-se dos seus erros, por vezes para sempre, outros nem se apercebem que os cometem…Uns lidam bem com o erro, aprendem e evoluem com ele, outros deixam-se paralisar por ele…seja por não conseguir perdoar-se, não superar as suas próprias falhas, ou por viver paralisado com o medo de errar…
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Cometi muitos erros, estou longe de ser sequer moderadamente aceitável, quanto mais perfeito…Erro, frequentemente…aprendo com os erros? Sempre e nunca. Sempre, porque sei que errei, o erro é capaz de me alterar por dentro, mas incapaz, de na maior parte das vezes alterar o que passo para fora, não muda por fora…Perante a mesma situação, pensarei que já cometi aquele erro, mas sei, que na maior parte das vezes o cometerei novamente…Mas não sou insensível ou indiferente para com os erros…Sofro e recrimino-me por eles.
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Hoje, nestes dias que passam, apreendi que se calhar o caminho não é de todo, evitar ou fugir do erro, tentar retirar lições do que foi feito e esperar que graças a elas, apenas fico um aprendizado bom , e que tudo o que de mau esse erro trouxe para os outros e para nós seja concertado…
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Não podemos alterar o que já foi, o que já não é, o que se esfumou no caminho que todos percorremos.
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Nada está no nosso poder para alterar eventos, acontecimentos, mudanças bruscas que a vida nos dá. No Forrest Gump diz-se que a vida é como uma caixa de chocolates,nunca sabemos aquele que nos vai tocar…Não escolhemos a maior parte das coisas que nos acontecem, por mais que digamos que atraímos algo de bom ou de mau, há sempre coisas que fogem do nosso controlo, são irracionais, inexplicáveis, e muitas vezes nem vêm acompanhadas com nexo de causalidade, para serem melhor compreendidas.
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O mais importante é não deixar que a vida se adiante a nós mesmos…Ela pode puxar, mas o importante é nunca nos deixarmos ser apanhados na curva, não podemos prever o que nos vai sair, nem nos é dado o poder de por vezes pedir para repetir. É algo assustador, mas com tantas implicações emocionais, palpáveis e não palpáveis, mesmo jogado num universo cósmico em que vivemos a chocar com outros seres, também eles, uns mais que outros, confusos com toda a complexidade de nadas que temos que lidar no dia a dia, é esperado que sejamos fortes, capazes, impecáveis e que todos saibamos o nosso papel…Somos lançado sem rede, à espera que sem qualquer tipo de explicação encontremos o nosso próprio caminho, saibamos qual é o trilho…Mas depois só temos esta oportunidade…É o hoje, nunca o amanhã…Uma imensidão de conhecimentos, experiências que nos levam aos actos e palavras, que demoramos anos e muitos vidas inteiras a tentar sequer chegar à sua superfície…Seja na hora de desfrutar, de ganhar, perder, lidar com tristeza, euforia e saudade, tudo num só tempo, num acumular de horas que vamos juntando e que têm que ser repartidas não pelo que podemos ter, mas por aquilo que temos, devemos, queremos.
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A mesma mão que dá, sem explicação…nos transporta para dias mágicos, que nos banha de luar e quase que nos dá o privilégio de escolher as estrelas, é a mesma que nos tira, de forma fria, crua, que nos esvazia a alma, nos tira o tapete…a mesma que nos esbofeteia por vezes, parecendo que o faz apenas para magoar, outras vezes para nos despertar, outras até só para nos fazer voltar a sentir….baralhar e voltar a dar de novo.
Mais importante que nos perdermos no medo ou na decepção que deixamos no ar, é fazer algo , hoje, não deixar para amanhã. Mais importante que pedir mais tempo, lamentar a sua falta, é criá-lo…Ele é sempre um espaço em branco…deixado ao acaso, para que como uma criança tenhamos a oportunidade de o pintar, de o preencher… Nada é mais transitório e nada ao mesmo tempo é mais criação nossa…Dentro do tempo cabe muito mais que minutos e segundos… Somos donos do nosso tempo. Por aí começa a viragem, fazer com que ele seja controlado por nós.Não o tempo para ir ao cinema, para trabalhar, viajar etc…o tempo que se dista entre nós e a liberdade da aurora.
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Mais importante que pedir para que não desistam de nós, que não nos deixem sós, é sermos nós os 1ºs a não o fazer…Porque a “mais difícil das distâncias é a de nós próprios…”
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Não sejamos dependente nem reféns do chocolate que nos saia da caixa…Não podemos antecipar, mas podemos não nos deixar ser ultrapassados…Por mais estranho que pareça, mesmo quando parece que nada está no nosso controlo, se pensarmos bem, a última resposta é sempre nossa…É a forma como lidamos e decidimos ficar e lutar, ou entregarmo-nos, sem luta , ao acaso, e esperar que ele nos sorria…
Sartre dizia “estamos sós e sem desculpas” mas também que “somos liberdade”. Liberdade que gerava a responsabilidade, a ideia de que tudo podemos fazer, desde que tenhamos consciência que teremos que arcar com as consequências das acções, mas eu acrescenta também, as omissões… Temos que actuar. Ter a consciência que o passado não se muda, há coisas que por mais que façamos hoje, o futuro não nos dará o troco, mas é a consciência de que trilhamos o nosso próprio caminho, que fizemos algo. Que um gesto nosso pode ainda fazer a diferença, se não para alguém, para nós próprios, nos aproxima daquilo que nos faz humanos, nos aproxima da liberdade por mais amarras que nos sejam colocadas todos os dias… Um gesto, por mais pequeno que seja, pode ainda fazer a diferença para melhor…Não nos levarmos demasiado a sério mas ao mesmo tempo, ter consciência que é muito sério tudo aquilo que deixamos passar, um beijo que não demos, uma palavra que ficou por dizer, uma decisão que por mais difícil que fosse, tínhamos que ter tomado…um pedido de desculpas, mesmo quando a culpa é tão errática…
Não esperemos que tudo mude por algo que decidamos fazer...Não esperemos compensar a falha com uma aprendizagem ou muitas acções seguintes para a compensar, como se buscassemos um perdão ou alguma espécie de recompensa...Muitas vezes se surpreenderão como um gesto tão pequeno como um olhar ou um sorriso, pode fazer valer a pena toda a estrada que caminhamos e todas as vezes que dela nos perdemos...
Ter consciência que muitas coisas más podem e vão acontecer ao longo de uma vida, muita coisa vai acontecer e vai-nos afectar, alterar, colocar a dúvida e muitas intempéries poderão cair sobre nós…Não é a forma como como a vida nos muda que deve ser o centro do nosso tempo, nem é os obstáculos que ela nos dá, seja ab initio , ou a meio do caminho, é a forma como nós lhe respondemos, que nos faz ser maiores ou menores, que nos deixa mais longe ou perto…. Não é a forma como caímos, ou chocamos uns nos outros, é a forma como, após isso acontecer, decidimos ou não parar de caminhar… Sabendo de antemão que o caminho faz-se sempre por entre a luz e a escuridão…
Façamos o que temos que fazer, com erros, sem erros, tentamos que o mar não nos detenha nem que fique demasiado longe a montanha.
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“Vamos fazer o que ainda não foi feito”
3 comentários:
Erro. Tema capital :)
Tentativa-erro. Tentativa-erro. Tentativa...
Só me ocorre citar Torga...
'Poucos chegamos ao fim contentes por termos respondido a todos os acenos da vida. Levamos connosco para a sepultura o pesadelo dos gestos que não fizemos, das palavras que não proferimos, dos actos que não praticamos, dos sentimentos a que não demos expressão. A consciência de que grande parte das oportunidades foram desperdiçadas e a íntima certeza de que tê-las aproveitado seria o melhor da nossa existência.'
E sabes o que é curioso?... Demorei (lamentavelmente) muito mais tempo a aprender que nada é tão irreparável como uma omissão, do que o que demorei a perceber a teoria do normativo axiológico prático =P
Nada. Nada é tão irreparável como uma vontade incapaz de se transfigurar em acto. Nada. Nem sequer um erro dos grosseiros.
Mas sabes qual é a melhor parte, é que a julgar pelo historial, quando aprendi, aprendi, com efeito.
Então agora o que é que faço? Erro, claro está! Mas com a convicção de cada vez errar melhor e a fé de um dia acertar. Em cheio!
Como sempre te digo, 'ele' há-de baralhar e dar outra vez... Vai dar tantas vezes quantas forem necessárias e o que nos distingue uns dos outros também é a (in)capacidade de ir a jogo. A sujeição à álea.
Deliciosa lotaria existencial ;) *
O teu comentário coloca totalmente em "jeopardy" o meu texto...;)
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É mesmo isso...e bela citação do Torga...
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Continuaremos a brincar e a jogar nesta lotaria existencial,mas com a convicção que não devemos deixar que ela nos condicione nem que tenha a última palavra...
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Mesmo que não dê, ou que tire mais do que dá, cabe-nos a nós escolher ter um papel participativo, o de não nos contentarmos nem esperarmos pela cautela vencedora...Trilhar o caminho independentemente de saber o que nos vai sair, e saia o que sair, pegar no que temos e fazermo-nos ao caminho, sem medo de errar, nem com a obsessão de ter que acertar.
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beijinhos
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