domingo, 11 de julho de 2010

Futebol e a Vida.




Cena do filme "Any giving Sunday" com o brilhante actor Al Pacino, a dar um discurso motivacional totalmente inspirador não apenas para o futebol, mas também para a vida.

Joguei futebol federado durante alguns anos, e só quem jogou, quem fez parte de uma equipa, sabe o que é sentir aquela união, aquele sentido de família...de no nosso dia a dia sermos de quadrantes totalmente diferentes, tendo sonhos e formas de estar diferentes, backgrounds que nos poderiam afastar,mas que ali , naquele balneário, perdemos e vencemos juntos...como uma equipa. Divisões,invejas, picardias e lutas até, que poderiam ocorrer durante a semana de treinos...mas quando chegavam os dias dos jogos...quando entravamos em campo...Aí transformavamo-nos...O mesmo que era capaz de até não ser a pessoa que eu mais gostava na equipa,seria capaz de o defender no campo contra quem quer que fosse,tal como ele faria o mesmo por mim.
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Nisso e noutras coisas é o que o futebol tem de bonito...Tal como a vida. Ele não imita a vida, mas tem uma série de pontos de contacto... A incerteza, o podermos dar tudo e mesmo assim não atingirmos um objectivo... A diferença, e talvez aquilo que mais sinto falta no futebol, é que apesar da incerteza no resultado, havia coisas que eram certas...Aquele sentimento bom antes  de ir para os treinos, as mesmas piadas, o crescimento de indivíduos num processo de equipa, o acompanharmos o a evolução uns dos outros...Fica sempre um laço que não se quebra...Nunca fomos os melhores amigos fora dali...conheciamo-nos no campo, e aí parecia que deixavamos uma parte de nós que mais ninguém pode entender...Uma série de experiências e emoções que experienciamos juntos, que nos fazem ter laços entre todos que não desatam por mais anos que passem...É impossível mesmo hoje,se encontro algum colega de equipa,que não sintamos algo especial, que o sorriso não abra, e não haja aquele carinho por aqueles tempos em que sonhavamos enquanto corriamos atrás de uma bola. Parece que o tempo não passou,ainda vemos nos olhos uns dos outros,aquele fogo,aquele brilho...Nunca se apagou.
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Uma coisa que no futebol tinha de diferente a vida,é que apesar da incerteza do resultado, haviam algumas certezas como referi...Hoje sou capaz de fechar os olhos, e ainda sentir aquele cheiro a terra molhada, ao campo que cercava as 4 linhas, as vozes vindas das bancadas ou a voz de comando do banco...mas acima de tudo, aquele sentimento reconfortante de certeza que não estava sozinho...de saber...Ver a bola a chegar ao meu encontro,dominar no peito e sem precisar de olhar ou sequer falar, para saber que do lado esquerdo ia ter o N... ou do lado direito o R... De saber a forma como ia colocar o pé na bola e saber que havia essa certeza,ele sempre correria pelo flanco esquerdo e o R, pelo direito. Saber que quando o passe saía ,mas ou menos onde a bola iria cair para finalizar...saber o que cada um podia ou não podia fazer...os fortes e fracos de cada um.

Essa certeza...o saber que ali, no campo, podia sempre lutar e podia mudar algo...que podiamos juntos fazer a diferença...De saber que eu era capaz de deixar tudo no campo por eles, como eles por mim...Naqueles 90 minutos, eramos mais que famíla, ninguém nos podia tocar,sentir ou sequer ver...E no final,fosse qual fosse o resultado...a certeza de sairmos como uma equipa, com os seus problemas, com uns com maior destaque que outros, mas tal como uma família,uma unidade, nunca deixando nenhum para trás...Os treinos intensivos, as tareias físicas, os risos e brincadeiras e partidas partilhadas, o obrigar-nos a pensar numa ideia de colectivo, valores de amizade,companheirismo,respeito...o aprender a quando um falha, não criticar e deitar abaixo,mas pelo contrário, aplaudir e dar moral esperando que a seguir corra melhor.
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Pessoas totalmente diferentes,unidas por uma causa comum,por uma paixão comum ,por um emblema na camisola e por uma força interior, que começava no balneário,no dia.a-dia, e que transportámos para cada campo fosse onde fosse, com o "nosso" grito, aquele em que todos exteriorizavam toda a tensão antes de entrar no campo de batalha...Aí,eramos capazes de nos superarmos, e assim, superar qualquer rival...De ir até ao limite das forças e do risco. Sair de campo,mesmo que todo partido, cheio de escoriações e dores, mas sair de campo com aquele cansaço bom...que nos faz sentir vivos, de sentirmos que temos forças ainda guardadas para lutar...
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Naquelas 4 linhas...aquele cheiro a terra molhada, aquela poeira levantada no verão a cada pré.época, aquele companheirismo,aqueles que, sem receberem nada em troca,acordavam de manhã apenas para acompanhar um grupo de miúdos...graças a eles muitos não se perdiam, muitos iam ganhando valores e uma formação e lições que em mais nenhum outro local ganhariam... São pessoas que têm um valor incalculável para a sociedade... Aqueles domingos de jogos, aqueles momentos de confraternização,o nervoso miudinho antes de um jogo mais importante, aquela adrenalina...aquela noção de grupo e de defesa intrasigente de todos os que o compôe...aquela sensação de saber onde cada um estaria no campo, e de comunicarmos com menos que um olhar...a sensação de marcar um golo, do regresso aos balneários ao intervalo, os rituais de cada um, os momentos mais tensos,  os mais emocionais, os de euforia, de lágrimas...todos vividos dentro daquelas 4 paredes, aquele templo que é o balneário,que mais ninguém poderá entender sem nunca ter lá estado e vivido tempo da sua vida...o desafio, a competição, aquele fogo dentro de nós, que nos fazia entrar em campo sem medo de nada...o regresso a casa depois de mais um jogo ganho...mas acima de tudo, aquele sensação de ganhar e perder mas sempre cair de pé, e como uma equipa...Dentro dessas 4 linhas, olhando para o meu lado e tendo 10 pessoas,diferentes de mim, mas que naqueles momentos tinham o mesmo objectivo e fariam tudo umas pelas outras...essa sensação...Nunca se perde...Fica para sempre,esses momentos,esse fogo pode parecer que desaparece,mas continua sempre cá... Dos momentos mais felizes e de maior liberdade, são aqueles que vivi,dentro daquelas 4 linhas, em que juntos decidiamos lutar até ao fim....como uma equipa... Inch by inch

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