segunda-feira, 21 de junho de 2010

The Butterfly Effect




"o bater de asas de uma simples borboleta poderia influenciar o curso natural das coisas e, assim, talvez provocar um tufão do outro lado do mundo"

 
Este é o efeito borboleta que integra a teoria do Caos de Edward Lorenz

É também o título de um interessante filme.

Ashton Kutcher um actor mais conhecido pela sua aparência física e participações em comédias, e mais recentemente por ser marido da Demi Moore (esta sim uma grande actriz, já consolidada no meio ), tem aqui um trabalho bastante interessante.

Um guião interessante, um bom argumento que parte de uma ideia que me assalta várias vezes e que, se nos detivermos a pensar nela, nos deixará certamente intrigados.

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Evan é um jovem que não vive satisfeito com a vida que tem, ficou marcado por determinados eventos passados, que alteraram a sua vida e das pessoas que o rodeiam.

Evan desde miúdo sempre foi dotado de uma grande sensibilidade e de uma visão dele próprio e dos outros muito peculiar. Expunha os seus pensamentos e partilhava as experiências que ia vivendo com o seu pequeno diário. Diário que ao longo de anos foi acompanhando o seu crescimento, os acontecimentos que moldaram o desenvolvimento da sua personalidade e o trilho que tomou para a sua vida.

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Evan vive num meio pequeno onde se desenvolve toda a sua infância e desde tenra idade sofre de pequenos desmaios, em que ele apaga e acorda estando noutro sítio qualquer e sem saber o que se passou. Todos esses momentos ele regista no seu diário.

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Passado vários anos, esses desmaios e espaços brancos na sua memoria vão deixando de acontecer, até ao dia em que ele relê os seus diários e volta a ter o mesmo problema...Só que desta vez, ele consegue recuar no tempo e voltar aos momentos chave que ele descreve no seu diário e reviver tudo aquilo que aconteceu…Isso gera uma série de descobertas sobre o seu passado, das pessoas que lhe eram importantes e o reavivar sentimentos de culpa, revolta ou de medo que nunca tinha sabido encaixar, e encontrando respostas a uma série de acontecimentos que sempre haviam sido um mistério mal resolvido na sua vida e na dos seus amigos.

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Rapidamente se coloca a questão… E se pudéssemos voltar atrás no tempo? Não uma viagem no tempo, como meros observadores…Voltar de facto, a um momento exacto em que sentimos que a nossa vida poderia ter tido um rumo melhor ,se ao invés de virarmos esquerda virássemos à direita, se em vez de silêncio, tivéssemos uma palavra para poder alterar todo o nosso futuro…

Há momentos definidores. Momentos, que podem ficar guardados no nosso diário de memórias, que ficaram marcados de uma determinada forma, mas porque na altura não tínhamos o discernimento de o entender, e assim ficamos com a memória não da realidade que presenciamos, mas a realidade que recriamos na nossa mente, a forma como a perspectivamos e como a quisemos arrumar na nossa memória sensitiva…

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Ter essa capacidade de voltar ao passado e de o reviver e alterar? Será uma dádiva? Poderá tornar-se uma maldição? Ter a possibilidade de melhorar o nosso presente, alterando a forma como determinado evento no nosso passado ocorreu.

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Voltando, poderemos salvar alguém que ficou para trás? Poderemos encontrar a nossa verdade interior? A explicação para a forma como hoje nos limita e a raíz das nossas fraquezas e medos?

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Aqui entronca o efeito borboleta…Evan descobrirá, que uma pequenina alteração pode ter um efeito benéfico para ele, mas catastrófico para outras pessoas…Algo na nossa vida pode melhorar, mas ao mesmo tempo e sem nexo causal directo, uma série de coisas podem ficar piores para nós e para todos.Ao alterar um dado evento, alteramo-nos não só a nós como a todos os outros à nossa volta. Não é possível ter tudo, nem é possível fazer com que no fim todos saiam a ganhar…pelo caminho há sempre algo que tem que se perder, há algo que temos que aprender a deixar ficar para trás..Poderemos resgatarmo-nos ? Sabendo o que sabemos hoje, poderíamos voltar atrás e fazer as coisas de forma diferente, para melhor? Será que se alterássemos para melhor, isso se reflectiria num presente e futuros melhores? Afinal, não é possível mudarmos o passado sem mudar aquilo que hoje somos. As marcas, as cicatrizes, as pessoas, os momentos, todos ganham uma certa dimensão porque tiveram uma encadeamento de acontecimentos ordenados que nos encaminharam para determinadas janelas ou portas, para determinadas relações, para determinadas formas de sentir e pensar…E ao fazê-lo, uma série de vidas à nossa volta também se alteraram, interagiram connosco, existe toda uma alteração cósmica se interrompermos esse curso temporal.

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Daí que uma pequena alteração no passado, que hoje parece que nos resolveria todos os problemas, poderia desencadear uma série de alterações no nosso percurso, que no limite poderia até levar-nos a um estado ainda pior, calamitoso até, perigoso para nós e para os outros que fizeram e fazem parte da nossa vida.

Se mudamos um momento, podemos alterar tudo. Para o bem e para o mal. Não podemos eliminar as variantes que compôe a existência. Elas estarão sempre presentes a cada mudança. Não é possível mudar uma pequena coisa no nosso passado, sem acabarmos a alterar tudo.

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Evan debate-se com esse problema. Irá ainda tempo de salvar quem ficou para trás? Para isso terá que abdicar de si próprio ou terá que sacrificar a felicidade de outras pessoas para poder de forma egoísta ter uma vida melhor? Ao reviver o passado e ao alterá-lo, não alterará toda uma ordem cósmica que apesar de parecer aleatória e irracional, tem no fundo uma ordem, que fica totalmente abalada, podendo originar desfechos vários e muitos deles catastróficos?

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Um filme surpreendente, que nos faz pensar…em nós, naquelas vezes que desejamos, tal como Evan voltar atrás para alterar uma pequena coisa no nosso passado que sabemos que poderia influir o nosso futuro para melhor…A ideia de eterno retorno, de poder emendar o erro, de poder viajar no tempo, de poder dispor de uma 2ª oportunidade, sabendo-se que muitas vezes a vida nos coloca perante situações delicadas em fases da nossa vida que não temos a capacidade ou maturidade para fazer o melhor julgamento…A ideia de que não temos hipótese de remendar o que fizemos, de que não nos é dada a margem de aprendizagem. Que pelo caminho, pelos nossos actos e omissões, muita gente se perde, muita gente sofre e nós próprios podemo-nos alterar e perder pelo caminho.

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Será esse impulso e essa ilusão de poder dar uma 2ª oportunidade demasiado perigosa? O que temos que perder do que hoje somos para poder mudar o passado? Que danos colaterais resultarão disso? Ou será que simplesmente, andaríamos de mudança em mudança até concluirmos que não podemos mudar aquilo que já foi e passou sem nos perdermos nesse caminho de regresso…e, ao mesmo tempo, corrermos o risco de perder alguém no caminho. Concluir que afinal pode ser mais o que se perde, que a ilusão do que se pode ganhar…

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Um filme intrigante, com um argumento arrojado, e que certamente não deixará ninguém que o assista, indiferente à sua temática. Kutcher tem aqui, talvez, uma das suas interpretações mais sólidas e sérias de toda a sua carreira. Ele é o grande nome numa produção que não apostou em actores sonantes ( destaco a boa representação de Amy Smart) para o elenco, mas que acabou por se tornar um pequeno filme de culto.

Destaco o surpreendente e drástico final…Na versão em dvd é dada a opção para 3 finais alternativos. Um mais drástico que foi o que saiu nos cinemas, um mais moderado e uma versão mais do estilo “happy ending”…

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" Some people want to forget the past, some people want to change it..."



Ps- Destaque para a grande banda sonora. “Stop crying your heart out” dos Oasis, encaixa que nem uma luva no conceito desta história.

2 comentários:

Luísa disse...

A teoria de que se pudessemos mudar alguma coisa poderia ter efeitos catastróficos... parece um pouco para nos "consolar", uma vez impossível... contudo, a verdade é que se voltasse atrás e tivesse a oportunidade de alterar algo, o rumo da minha vida teria sido tão diferente... mas não seria o que sou agora.
Tudo o que vivi e tudo o que sou se deve ao facto de não ser possível alterar nada do passado... chegando à conclusão que há males que vêm para bem...
O que me leva a acreditar cada vez mais que nada é por acaso.

p.s. Tens que me emprestar o filme! :)

ricardocosta disse...

O voltar ao passado é o que aborda o filme... A teoria pura, está englobada na teoria do caos...E baseia-se na ideia de que um pequeno acontecimento, irrelevante aqui e agora,como o bater de asas de uma borboleta pode ter dimensões catastróficas do outro lado do mundo, como a criação de um tufão.
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O argumento pega nessa ideia e aplica-a à possibilidade de se pudéssemos voltar atrás no tempo e mudar o nosso passado, se isso não originaria o chamado efeito borboleta...Muda uma coisa e mudas tudo.
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Não tenho o filme infelizmente...Tenho-o mas temporariamente, foi-me emprestado.
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beijinhos