quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Parece-te que o encanto te traiu?

Tens que aprender a olhar, para sair de perto,
tens um mundo inteiro a admirar, mas o tempo não bate certo com o que vês…
Sem o momento te tocar, sem a lua a admirar, sem caminho a percorrer…quanto tempo irás perder a dizer “ este não sou eu”, em vez de lutar e acreditar, que se o dia um dia vier, estarás sempre por testar, tens uma margem para te libertar, nesse caminho secreto onde voas sem asas.
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Estás cansado de saber, que na luz sempre te prenderás pela sombra…Não deixes que ela delimite o espaço por onde podes caminhar…não tenhas medo de saltar a vedação e ver o que há do outro lado da rua.

Tens que deixar…largar a mão da quimera que te faz unir as redomas de vidro pelas quais te rodeias de espelhos dos locais que te encantam, que te chamam em surdina durante a noite enquanto o sono não chega, mas que são só de caminho único… tens que largar o coração…o que sente em vão, o que se enche de uma imensidão de nada, ao ponto de te apertar e se partir em mil pedaços…em cada um deles um rosto, um perfume, um regaço, um céu pintado a aguarela mágica, mas que quando acordas se dilui em lágrimas que se escondem no olhar….
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Não há razão para buscar, nem tempo para saber, apenas tens que Não te deixar levar…Encontra o caminho para ficar…
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Tantas portas sem chave, tanto chumbo que te prende ao chão, tantas nuvens que te impedem de ver que dia após dia, ainda que pálido, um novo dia nasce…mesmo do lado de quem perde.
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Vais re(aprender) a admirar, mas para re(descobrires) a chama que flui no sangue de quem respira a ânsia de estar no momento em que os sentidos são lume…?
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O que vais fazer? Vais guardar-te na caixa de música, resguardar-te do frio, dentro do teu globo mágico, onde cristalizas o tempo e o espaço?
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És tu quem (não) quer ver que fica noite para dar, do teu quarto não podes ver que o tempo continua a correr, por mais que te pareça que os dias correm sem origem nem sentido…Não há nada verdadeiramente teu a não ser aquele olhar perdido, a convicção de que nada sobra para dar, e deixar que o medo seja a tua companhia mais certa e segura…Queres partir mas ao mesmo tempo não queres perder tudo aquilo que ainda é teu, tudo o que te pode prender, tudo o que não te obriga a apostar-te, não te permitires a dar novas dores à dor, enquanto buscas aquele momento em que o sopro da maré não tem que terminar, em que de todas as brisas podes ainda construir uma nova madrugada…em que tudo o que não é de ninguém é tudo o que pode ser teu, ser de alguém que tu não queres ver, rasgar o chão, lavar-te no fogo, não deixar que a queda seja o mais próximo da textura da realidade.
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Serás tu capaz de deixar a chuva te tocar? O que farás tu quando o vento te soprar que não há local para se fugir, quando por mais que se faça segredo e se silenciem todas as vozes, o nosso peito chora as emoções…As que se escapam nos pedaços de tempo que gastas nesse sonho lúcido alegre/triste que preferes fazer-te eterno…esse interstício onde o pano nunca baixa, onde as paredes se abrem, onde do outro lado um sorriso sempre te aquece …Onde a viagem nunca tem que ter um fim… Parece-te que o encanto te traiu?  

1 comentário:

Anónimo disse...

"Queres partir mas ao mesmo tempo não queres perder tudo aquilo que ainda é teu, tudo o que te pode prender, tudo o que não te obriga a apostar-te, não te permitires a dar novas dores à dor..."
O que seria da literatura, da música, do cinema, da pintura... da arte em si... se não se permitisse "dar novas dores à dor"?